sexta-feira, 13 de julho de 2018
segunda-feira, 12 de março de 2018
Morte às Vassouras
Brasil,
agosto de 2002.
Uma
crise interminável no meu país, dividas
incontáveis, sede de conhecimento, entusiasmo e, e, e...
Tudo
isto foi o chamariz para a tomada de decisões.
Eu
me uni a uma amiga, congratulamos a decisão e começamos os preparativos.
Minha
primeira viagem internacional. Até então, nunca havia saído do Brasil, nunca
havia saído dos pés da minha mãe.
Através
de um classificado no jornal, descobrimos uma agência de empregos: “Trabalhe em
Portugal, com direito a adquirir visto de trabalho, pague metade agora e a
outra metade, quando estiver trabalhando”
Entusiasmadas,
fomos conhecer esta promessa de paraíso na Terra.
O
agenciador era um japonês, comunicativo e pitoresco.
O valor da empreitada: duas vezes a passagem
de ida e volta para Portugal, mas a grande vantagem, segundo sua argumentação,
era o emprego que arrumaríamos, logo que chegássemos, além do visto de
trabalho.
“O
único problema será o choque cultural: a adaptação nos primeiros meses, à
organização do primeiro mundo, as responsabilidades de horários.
Ah!
E as saudades da família e dos amigos? Pensem bem!
Normalmente,
vão só quatro pessoas pela agência, para não causar desconfianças; é preciso
levar pouca bagagem e agir com muita, muita discrição no aeroporto.
E
mais: parcelamos em 12 vezes, e só depois do primeiro salário”...
Interessadas,
voltamos à agência, só que desta vez não fomos sozinhas.
Conosco
estavam, um alemão taciturno e viajado, o pai da minha amiga, um negro
infinitamente astuto, minha mãe, dramatizando, querendo saber todos os detalhes
e minha irmã, uma sagaz professora da periferia.
Todos
querendo desmascarar o vilão pela possível falcatrua.
As
únicas que acreditavam na honestidade do japonês, eram a minha amiga e eu.
Saíram
com a certeza, que o emprego que ele nos arrumaria seria: Vendedoras, mas
“Vendedoras de Desejos”.
Depois
de muitas investigações, contrassensos, opiniões e conselhos, desistimos das
promessas do japonês e decidimos ir sozinhas.
Europa,
para mim, era o começo da Bem Aventurança; emudecemos as vozes do juízo, que
insistia em compartilhar nossas decisões.
Saí
do meu emprego, vendi meus móveis, minha velha bicicleta, informei minha
família...
Planejávamos
nossa viagem com tanto entusiasmo, que daria um belo filme de aventura.
Procuraríamos
as ONGs, o Teatro, os Meios de Comunicação, e se preciso fosse, seríamos empregadas
domésticas.
Leis
contra imigrantes!?
Não
era problema, ou melhor, não tocávamos no assunto, driblávamos esses
pormenores, ceifávamos tudo com muito otimismo.
Mas,
drasticamente, o pai da minha amiga, um dos nossos maiores incentivadores, de
um infarto súbito morre, e com ele os sonhos dela.
Agora
estava sozinha, eu e meus sonhos.
Não
contava mais com ninguém, não dava para voltar atrás...
Não
tinha mais emprego, móveis ou coisa que o valha.
Só
tinha uma ideia fixa, perturbadora na minha cabeça.
Ir
para a Europa...
No
aeroporto estavam minha família, meus amigos, era como se eu estivesse a
caminho da guerra. Todos fingiam coragem, o indefinido prazo para a volta, era
o que mais causava desconforto. Minha mãe era a única que não fingia, chorava como
uma criança, foi embora antes do embarque e pela primeira vez depois de
adultas, eu e a minha irmã nos abraçamos, um abraço sofrido e cúmplice, ela
sabia que eu estava fazendo tudo isto por eles também.
Desembarquei
em Portugal sem pontos de referência, no bolso 500 Euros e o endereço de um tal
pastor evangélico, que me indicaram no Brasil, a partir daí começa minha
verdadeira vida na Europa.
O
Destino conspirava, a sorte se fazia presente e naquela hora, naquele momento,
tinha absoluta certeza que era chegada a minha vez.
Emprego
para imigrantes, não era tão fácil como eu supunha.
Tentei
emprego em jornal de bairro, cafés, restaurantes, mas a multa para quem
contratasse pessoas ilegais era altíssima, o dinheiro estava ficando cada vez
mais escasso...
Tomei
conhecimento de uma agência, que selecionava empregadas domésticas.
Mal
sabia eu que viveria uma das experiências mais marcantes da minha vida, e que
esta história se tornaria um livro, ou melhor mais do que um livro, um desabafo
desesperado.
Fui trabalhar em uma
mansão em Lisboa como empregada doméstica ...
O
trabalho seria em regime interno, não imaginava direito as proporções de tais condições
de trabalho. Fiquei praticamente em um exílio domiciliar, consegui aguentar por
12 meses, ao final sucumbi, desisti de tudo e voltei ao Brasil.
Trouxe
comigo essa história gritando na minha alma, com a promessa de contá-la para o
maior número de pessoas possível.
Para
isso escrevi um livro intitulado: “Morte às Vassouras” e hoje ministro
palestras sobre autoconhecimento, autoestima, e como somos Raros, Ricos e Milionários e muitas vezes não sabemos... Principalmente
para as mulheres das grandes periferias, presídios e escolas.
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