quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cinco vidas em uma só: experiências e desventuras de uma jornalista em livro

Cinco vidas em uma só: experiências e desventuras de uma jornalista em livro
Por Izabela Vasconcelos, de São Paulo

A vida reservou para ela momentos inéditos, um conjunto de situações que pouca gente viveu. De jornalista a imigrante ilegal na Europa e técnica de enfermagem em clínica psiquiatra no Brasil. É assim a vida nada comum de Cláudia Canto, que, de cada aventura e aprendizado, fez um livro.

Empregada doméstica, enfermeira, freelancer e escritora
Chegar à Europa com 500 euros do bolso, viver como imigrante ilegal, trabalhar como empregada doméstica em cárcere privado são algumas das lembranças que a jornalista tem para contar. “Cheguei a fazer frilas na Europa, escrever para jornais, e a vender anúncios também, mas não podia mostrar minha cara, porque eu estava como ilegal”, conta Claudia, que encontrou na função de empregada doméstica um caminho para o sustento.

De um ano que ficou na Europa, oito meses foram em cárcere privado em um Palácio em Lisboa, onde trabalhou cuidando da mansão. Entre as experiências vividas, essa foi a mais difícil. “Trabalhava e cuidava de dois idosos na casa, não tinha praticamente folga, nem podia sair pra nada, nem pra telefonar”. Não voltar de “mãos abanando” foi o que motivou Claudia a continuar na “prisão”.

A jornalista, que só tinha algumas horas para sair no domingo, recebeu propostas para se prostituir, conheceu algumas pessoas da noite, mas se negou a entrar nessa vida. “Tive sim a opção de ter me tornado uma prostituta, mas descobri que, para tal, o talento é primordial, e me falta este recurso, felizmente, ou infelizmente”, revela.

Foi dessa “aventura” que nasceu o “Morte às vassouras – Diário de uma jornalista que se tornou empregada doméstica em Portugal”, publicado em 2002 pela editora Edicon, que, de acordo com ela, “retrata a mediocridade humana”.

O livro foi lançado em Portugal e está sendo traduzido para o espanhol. Apesar dessas vitórias, Claudia critica a imprensa, por não dar espaço aos projetos alternativos. “Não saiu nada sobre o meu livro na grande imprensa européia. Houve uma certa censura. Foi publicado só nos jornais alternativos”, desabafa.

Transtornado e escritor: todo mundo tem um pouco
Depois dessa obra, Claudia mal imaginava que estava prestes a passar por outra experiência que lhe renderia mais um livro, a de técnica de enfermagem, uma de suas formações, em uma clínica psiquiatra. No primeiro dia em seu novo emprego, foi recepcionada por um homem que apresentava todos pelas suas respectivas doenças mentais.

“Agora você deve estar querendo saber o que eu tenho, né?! Eu sou o genro do George Bush e só não saí com a Madonna porque eu não quis”, apresentou-se o homem com transtorno bipolar. “Isso é para eu escrever de novo, pensei. Eu creio nas oportunidades. E esse foi até um livro didático, de acordo com os conhecimentos que tenho desses casos”, diz a jornalista, que publicou seu segundo livro, o “Bem-vindo ao mundo dos raros – Contos e crônicas de uma psiquiatra”. Depois da passagem pela clínica, Claudia também participou de palestras sobre o tema, onde, vestida como paciente, interpretava os casos que presenciou.

“Mulher Moderna Tem Cúmplice”, uma provocação aos machistas, é sua mais recente obra. No livro, a jornalista aborda o drama dos relacionamentos atuais e violência contra as mulheres.

A cidade dormitório virou mulher
Nascida e criada em Cidade Tiradentes, periferia da zona leste de São Paulo, a jornalista faz do bairro, conhecido como “cidade dormitório”, sua nova obra. “Cidade Tiradentes, de menina a mulher”, que deve ser lançado ainda neste mês, a região é tratada como uma personagem que cresce entre desafios e conquistas.

“Faz tempo que eu queria fazer um livro sobre o meu bairro. Fui então convidada pelo Instituto Polis para montar um site sobre Cidade Tiradentes e reunir material sobre o bairro para o site. Essa foi a oportunidade”, explica Cláudia, que sempre atuou e ainda trabalha em projetos e veículos alternativos, palestras, saraus, e com tudo isso, divide também espaço entre a enfermagem e o jornalismo, em veículos da zona leste da cidade.

Arrependimento por alguma das experiências? Nunca. “Não me arrependi com nada. Pelo contrário, estou caçando outros assuntos polêmicos. Essas experiências me trouxeram maturidade e humildade”, diz a jornalista, imigrante ilegal, empregada doméstica, enfermeira e escritora, com suas “cinco vidas”.

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